sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A ameaça velada das armas nucleares

29/06/2008

Iminência do aumento do poderio nuclear bélico põe comunidade internacional em alerta.

Ricardo César


Quase 20 anos após a Guerra Fria e mais de 60 do ataque que devastou as cidades de Hiroshima e Nagasaki, o tema do armamento nuclear tem despertado muitas preocupações e polêmicas. Na última semana, ele esteve no centro das negociações da comunidade internacional.

Na segunda-feira, ministros da União Européia anunciaram a imposição de mais sanções econômicas contra o Irã, aumentando as pressões para que o país persa desista de seu programa nuclear, mesmo que não haja provas de que a nação o mantenha para fins bélicos. Mas o Irã não se deu por vencido e deixou claro que não irá retardar suas atividades nucleares.

Na quinta-feira, por outro lado, a comunidade internacional parece ter obtido uma vitória e comemorou quando a Coréia do Norte entregou um detalhado relatório sobre seu programa nuclear, cumprindo condições impostas pela União Européia e por outros países.

O presidente americano, George W. Bush, anunciou que retiraria a nação da lista de países que patrocinam o terror, o chamado “eixo do mal”. Um dia depois, a Coréia do Norte destruiu a torre de resfriamento da usina nuclear de Pyongyang, um símbolo de seu programa.

Mas a preocupação com o tema ainda é grande. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregado de zelar pelo cumprimento do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), 12 países conservam mais de 9,5 mil ogivas nucleares ativas.

Este aparato seria suficiente para a fabricação de armas atômicas mais devastadoras do que as destruíram as duas cidades japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. Um estudo recente da AIEA revelou a existência de 5 mil toneladas de urânio altamente enriquecido e 450 mil toneladas de plutônio - elementos necessários para a fabricação de bombas - e de cerca de 500 incidentes de contrabando nuclear em 12 anos.

Consideradas fontes de energia limpa, as alternativas nucleares ainda são problemáticas, sobretudo, por se enrolarem na geopolítica. Quem as detêm em larga escala ocupa posição privilegiada no cenário internacional. O mais preocupante está na sua hipotética utilização bélica. Apenas 10% das armas atômicas existentes hoje seriam suficientes para extinguir toda forma de vida na Terra.

“O momento é preocupante. Acidentes nucleares podem acontecer a qualquer momento. Hoje, diante dos números e da detenção de armas nucleares por países da Ásia e do Oriente Médio, é possível perceber a desatualização do TNP, a única arma para se combater guerras nucleares no mundo”, diz o ex-ministro da Educação e da Ciência e Tecnologia durante o governo Collor (1990-92) e doutor em Engenharia Atômica, José Goldemberg, em entrevista ao POPULAR.

Apesar de nos últimos 30 anos o TNP ter evitado a multiplicação do número de países detentores de armas atômicas, atualmente cinco nações têm, declaradamente, dessas armas em grande escala: EUA, França, Rússia, Reino Unido e China. Todos são signatários do TNP. Índia, Paquistão e Coréia do Norte já fizeram testes nucleares com explosões subterrâneas de bombas. Os dois primeiros nunca assinaram o tratado. A Coréia do Norte, por sua vez, se retirou do TNP, em 2003.

Israel tem armamento nuclear, mas nunca fez testes com bombas e também não aderiu ao tratado. Irã, apesar de signatário, é suspeito de ter atividades nucleares militares e criticado por não torná-las transparente. Embora as cinco potências nucleares tenham orientações diplomáticas institucionalizadas, para Goldemberg, elas mantém uma política desigual. “Ao mesmo tempo em que recriminam outros países, essas cinco potências, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (únicas com poder de veto), não se atentam para se desfazerem de seus materiais”, diz Goldemberg.

Paquistão, Israel e Índia detém a tecnologia nuclear há cerca de 40 anos. Esses países não se submeteram a qualquer controle e a Índia é recompensada pelos EUA com um grande acordo de transferência de material e tecnologia atômica. “Os critérios morais não contam no âmbito nuclear mundial”, analisa o doutor em Engenharia Nuclear e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aquilino Senra.

Em 1974, os EUA condenaram o primeiro teste nuclear realizado com fins científicos por Nova Délhi, na época aliada da então União Soviética. Em 2006, no entanto, os EUA passaram a apoiar o país indiano. Isso causou uma corrida atômica pela China e Paquistão. “A aliança nuclear entre Índia e EUA tem um motivo estratégico maior: o isolamento da China, vista como a grande rival da hegemonia americana”, diz Senra.

Fonte: Jornal O Popular

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