(Avoidind Politics?) - "Velhos amigos saúdam o novo ministro da Justiça"
A matéria abaixo foi extraída do Site Consultor Jurídico e estou postando aqui, pois entendo que representa duas dimensões da Política. Primeiro, a oxigênação ideológica por meio da ascenção de novos quadros ou grupos políticos ao porder, mesmo que esperado a continuidade do projeto político vinculado a pasta. Segundo, a representação de uma agir político permeado pela útopia que não morre, antes se renova e reinventa práxis [cultura] política. Nas palavras da minha pseudo-"xará" Nina Eliasoph:
Emile Durkheim (1965[1915]) says that rituals offer members a representation of the group, showing the group to itself in a concrete form, giving the group a name and a body. Rituals indirectly honor society itself, as the source of all meaning. Without direct acknowledgment and celebration of the bonds between people, sentiments os glad solidary dry up, and a healthy society falls apart.
("Avoiding Politics" - Nina Eliasoph)
Velhos amigos saúdam o novo ministro da Justiça
Uma plêiade de juristas ilustres reuniu-se na quinta-feira (16/12) para render suas homenagens ao futuro ministro da Justiça, o emérito José Eduardo Martins Cardozo. Desembargadores de São Paulo e de Minas Gerais, célebres criminalistas como Alberto Zacharias Toron, Roberto Leal de Carvalho, Sérgio Salomão Shecaira e Miguel Reale Júnior e civilistas como Ernesto Tzirulnik, Fábio Ulhoa Coelho e Judith Martins Costa. Foi uma celebração dos ex-alunos da PUC. (Na foto, da esquerda para a direita: José Eduardo Martins Cardoso com Marco Antôno Marques da Silva, Alberto Zacharias Toron e Ernesto Tzirulnik)
Dito desta maneira e nesse tom, tudo parece muito formal e solene. Mas o grupo que se reuniu no apartamento do advogado Tzirulnik é de amigos de longa data. Amigos mesmo. Militaram juntos no movimento estudantil. Sofreram e se divertiram juntos. Quase o tempo todo do mesmo lado e sempre contra a ditadura.
No começo, era o Grupo Opinião, fundado, entre outros, pelo depois deputado José Mentor. Dele participavam Wagner Balera, Henrique Sampaio Pacheco e, entre outros, o futuro jornalista Bruno Blecher. Quando José Eduardo Martins Cardozo era presidente do Centro Acadêmico 22 Agosto, surgiu a dissidência do Debate, cujas estrelas eram Cardozo, Tzirulnik, Toron, José Renê, Eduzinho e Beth Akemi.
Eram os anos de chumbo. Toda atividade política fora criminalizada. A expressão "direitos humanos" à época era uma provocação. A escuridão tomava conta do país. Esses amigos, quando na ofensiva, envolviam-se juntos em iniciativas contra o "sistema"; quando na defensiva, apoiavam-se uns nos outros.
Na festa de quinta, fotos em branco e preto daqueles anos circulavam de mão em mão. Magros, barbudos e cabeludos os hoje respeitáveis senhores exalavam idealismo, fraternidade e juventude.
Como no poemeto "Quadrilha", de Drummond, cada um seguiria seu rumo, mas sem romper os laços daqueles anos. José Eduardo, o Zé, presta concurso e passa para ser procurador do município. Em primeiro lugar, pelo que lembram os colegas. Mesmo sendo do PT, é convocado para chefiar a assessoria jurídica da Secretaria de Negócios Jurídicos, então comandada por Cláudio Lembo. O prefeito era o inefável Jânio Quadros. Mas Cardozo servia São Paulo, claro.
Erundina vira prefeita e escolhe José Eduardo como secretário de Governo. Tempos bicudos. As melhores ideias já apresentadas para administrar uma megalópole foram obstadas pelo neófito PT de então, associado ao fisiologismo da larga porção conservadora da Câmara de Vereadores. O redator deste texto, então editor de política do Jornal da Tarde — publicação dirigida pelos Mesquita do Estadão — testemunhou algo inimaginável. O establishment anti-petista trabalhando por Erundina e o partido da prefeita atrapalhando a correligionária. Genoíno e Lula faziam de tudo para apoiar a prefeita. Em vão. Mais tarde Erundina deixaria o PT.
(Acima: João Alves da Silva, o Jacaré; Henrique e Ernesto Tzirulnik; Alberto Toron; Zé Eduardo; Fábio Ulhoa; e Roberto Leal)
José Eduardo perdeu pontos no PT por investigar seriamente patifarias atribuídas ao partido, como o caso Lubeca. Mas não perdeu as cores. Torna-se vereador e no segundo mandato faz uma gestão inatacável como presidente da Câmara Municipal. Eleito com a segunda maior votação do estado, Zé Eduardo enfrenta a sombra crepuscular do correligionário mais votado, José Dirceu — hoje fora do governo. José Eduardo Martins Cardozo vai ser ministro da Justiça, com o aplauso dos mais renitentes inimigos do PT.
Na festa de quinta-feira (16/12), os antigos colegas não cansavam de incensar seu passado. Um cara sereno. Tinha o respeito da militância esquerdista mas também a admiração dos adversários. Não por acaso. "Ele era, simplesmente, o melhor aluno em tudo", lembra Alberto Zacharias Toron. Havia prêmios à época. Cardozo faturaria na área de Processo Civil, Penal, Administrativo... "Confesso que colei muito do José Eduardo", ri-se Toron. Graduado, o futuro ministro da Justiça fez-se professor da PUC. No curso de mestrado, entusiasmados com Norberto Bobbio, em um tempo que o autor era quase desconhecido por aqui. José Eduardo incita e seus colegas topam: vão estudar italiano italiano na Casa de Dante.
Há alguma divergência sobre o ranking dos mestres que mais os marcaram, mas todos lembram com fervor de Osvaldo Aranha Bandeira de Mello; seu filho, Celso Antonio; Hermínio Alberto Marques Porto; Pedro Cunha; e Ronaldo Porto Macedo. Fazem parte desse Panteão, Tércio Sampaio Ferraz e Cláudio Ferraz Alvarenga.
Como aluno e como amigo, José Eduardo era uma unanimidade, dizem em coro seus colegas. Tranquilo, bem resolvido, sério. "Nós ainda vamos trabalhar para esse cara", dizia Ernesto Tzirulnik.
Nem foi por acaso que a reverência ao amigo reuniu antípodas ideológicos como Miguel Reale Júnior, Denise Frossard e artistas como José Domingos, Ulisses Souza, Toninho Ferraguti que, ao final da festa, se refestelaram com uma aplaudida apresentação, ao piano, do garoto prodígio, José Eduardo Martins Cardozo.
*Do elenco citado faltaram os nomes de Gilberto Bercovici, professor titular de Direito Econômico da USP, Alessandro Octaviani, professor doutor na mesma universidade, além de Eduardo Fanganiello de Carvalho Fernandes, o Eduzinho Prefeito; José Renê Pires de Campos, o Zé Renê; Marco Antônio Marques da Silva, o Itapê (hoje desembargador do TJ-SP), Ana Amelia Mascarenhas Camargo; Walter Lacerda; Edgard Pena Amorim Pereira, o Edgarzinho (hoje desembargador do TJ-MG); Juca Novaes; Marcelo Camargo, o “Marcelo Bandido”. E outros heróis juvenis que não sabemos onde estão...
Foto de 1978, diante do Tuca, antes de um pindura no Paulino e em seguida a homenagem feita a professores cassados, como Florestan Fernandes, Paulo de Tarso Santos e Fernando Henrique Cardoso. Entre outros, pode-se ver na imagem Ernesto Tzirulnik, Zé Renê, Toron, Paulo de Tarso, Lessa, Miguel, Paulo, Irrene, Chiquinho, Inês, Renato, Sampaio, Ana Maria, Graça, Totonho (irmao do Mentor), Henrique Pacheco, Márcia, Andreas, José Mentor, Marques, Agamenon, Wagner Balera, Nelsonho, Sérgio Z, Rubnes e Bruno Blecher.
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